sábado, 9 de julho de 2016

Flip: 'A única saída é o amor', diz a Prêmio Nobel que relatou tragédias

No mundo que parece a cada dia mais cruel e com pessoas cada vez mais encerradas em sua própria visão dos fatos, a jornalista que relatou algumas das piores tragédias da humanidade expressou que "a única saída é o amor" e que "é preciso procurar o ser humano dentro do ser humano". Svetlana Alexievich, vencedora do Prêmio Nobel de 2015, foi a grande estrela da Flip neste sábado. A Tenda dos Autores ficou lotada e 1.800 pessoas, segundo o evento, ouviram a bielo-russa por um telão, do lado de fora.
Alexievich, de 68 anos, ficou particularmente conhecida pelo livro "Vozes de Tchernóbil", que reúne histórias de vítimas do maior acidente nuclear da história, lançado recentemente no Brasil. Também ouviu soldados soviéticos que foram à Guerra do Afeganistão e pessoas que tentaram o suicídio após o fim da União Soviética.
Em "Vozes", a história que abre o livro narra uma tentativa desesperada de uma mulher para salvar o marido, contaminado pela radiação da usina nuclear. Ela coloca o amor por ele acima de qualquer medida de segurança. O desastre de Tchernóbil desafiou a compreensão das pessoas pela falta de uma referência no passado. "É um tipo de maldade nova, um tipo de desastre novo", afirma a escritora na Flip.
"Você quer entrar na água, mas não pode. Você quer colher uma flor, mas não pode. A terra era a mesma, mas tudo havia mudado. Não se consegue colocar um nome nisso. Eu queria compreender o que havia acontecido conosco", diz Alexievich, que transmite um jeito afável na conversa. A mesa teve mediação do jornalista Paulo Roberto Pires.
A usina de Tchernóbil ficava numa área na Ucrânia nas proximidades de Belarus [nome atual da Bielorrússia], o que trouxe consequências ao povo bielorrusso.
Amor além da tragédia
A vida tem muitas tragédias, mas tem o amor, tem o pôr-do-sol. Essa beleza da vida eu tento que passar nos meus livros. Então eu falo do amor dessas pessoas que vivenciam tragédias, mulheres que amavam e que demonstraram força. As heroínas do meu livro tiveram atos acima de tudo que eu tinha encontrado antes na literatura", disse Alexievich.
"A única saída é o amor. O amor cura. O mundo não vai ser salvo pelo homem racional, mas sim pelo homem que tiver uma visão ampla das coisas, que não vise só o progresso. Não o homem cujo objetivo seja apenas produzir e consumir. Acredito que em alguns séculos vão nos considerar seres primitivos."
Alexievich falou que seu estilo de narrativa se opõe às limitações da profissão. "No jornalismo você transmite informações banais. Sempre me senti muito limitada por isso, sempre há algum segredo que temos que buscar nas pessoas", diz. "Eu cresci numa aldeia na Bielorrússia, e ouvia o que as mulheres falavam e achava que o que elas contavam muito mais interessante."
"[O entrevistado] É um ser pequeno igual a mim, que fala coisas simples, mas que com o tempo se torna algo maior", declara. "Você tem que achar o ser humano dentro do ser humano e não perder em si mesmo essas qualidades."
O método
Alexievich falou brevemente sobre como trabalha. Disse sempre gravar as entrevistas. "No papel você não consegue expressar o que é a pessoa" e afirma que coloca também a sua visão ao editar 100 páginas de uma conversa para 15. 
No fim, ela diz que não pretende mais cobrir guerras. "Eu não consigo mais entender que uma pessoa é morta porque pensa diferente."
Veja o restante da programação da Flip 2016
Mesa 17 – "O falcão e a fênix", às 19h30
Com Helen Macdonald e Maria Esther Maciel
Mesa 18 – "O palco é a página", às 21h30
Com Kate Tempest e Ramon Nunes Mello
Domingo, 3 de julho
Mesa 19 – "Síria mon amour", às 10h
Com Abud Said e Patrícia Campos Mello
Mesa 20 – Mesa 21 – "Sessão de encerramento: Luvas de pelica", às 12h
Com Sérgio Alcides e Vilma Arêas
Mesa 21 – Livro de cabeceira, às 14h15
Autores convidados leem trechos de seus livros favoritos
Ingressos
A partir desta quarta-feira (29) de junho, é possível comprar apenas na bilheteria da Flip, em Paraty, que fica na Tenda dos Autores e vai funcionar de quarta a sábado das 9h às 22h e no domingo das 9h às 15h.

Fonte: G1.globo.com

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